MORANGOS SÃO PESSOAS ...
Morangos mofados do autor Caio Fernando Abreu é uma coleção de contos dividida em “ O mofo”, que narra a queda dos valores do homem, trata de entrega ás drogas e ao álcool, com vários personagens desesperados, melancólicos e anônimos que no final se unificam em um só .
“Uma história jamais fica suspensa: ela se consuma no que se interrompe, ela é cheia de pontos finais internos, o que a gente imagina que poderia ser talvez uma continuação, á vezes passa de um novo capítulo, eventualmente conservando as mesmas personagens do anterior, mas seguindo uma ordem cujas regras nos são ilusoriamente ás vezes familiares”
Logo em seguida vem “Os morangos”, que traz uma leveza e uma esperança momentânea de final feliz em meio de todo o mofo mas o amargo do morango volta após o doce, abordando assuntos como preconceito, militarismo , hippies, pessoas sem destino.
“ Se permanecer aqui parado nesta janela, estou certo que acontecerá alguma coisa grave- e quando digo grave quero dizer morte, loucura, que parecem leves assim ditas. Preciso de algo que me tire desta janela e logo após, ainda, do depois, Querer um sentido me leva a querer um depois, os dois vêm juntos. “
Chegamos então aos “Morangos Mofados” que é introduzido por Strawberry fields forever, dos Beatles, e esse detalhe já me conquista logo de cara, Caio Fernando nos leva á saudade, á solidão e contrói um refúgio nos morangos mas dentro do mofo, do caos.
“ Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leva para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota, sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém da mais carona e a noite já vem chegando. “
Nestes contos vemos um casal que descobre que não é mais feliz por que os dois são gays, um romance de noite de ano novo e muitos outros relacionamentos incomuns.
“ Baixava ás vezes nela aquela sensação de que nada jamais daria certo, que todos os esforços seriam sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se modificaria”
“Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo”
Com uma linguagem simples em alguns contos e mais complicada em outros com elementos esotéricos e da cultura Pop, como Beatles, Angela Rorô e Janis Joplin, Caio cria contos com fluidez e para todos os gostos, é difícil não se identificar com pelo menos um, em poucas páginas ele passa a mensagem desejada, e cria personagens complexos e apaixonantes.
“ Não que fosse amor de menos, você dizia, depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava nisso.”
Este livro me surpreendeu positivamente com uma escrita de alto nível, assuntos reais e com os verdadeiros objetivos muito bem guardados nas entrelinhas, muitas vezes.
“ Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura”
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